Lapis Lazuli


Por debaixo daquele terno preto meu corpo suava, o calor da tarde de verão parecia judiar ainda mais de mim e de minha família. Meus olhos já não enxergavam mais o caixão descendo a terra, as lágrimas abrolhavam sem controle, o nó na garganta pulsava sufocante, a única coisa que podia me tranqüilizar, eram aquelas duas mãos, segurando em cada uma das minhas.
Do lado direito meu pai, de olhos fechados e a boca gritando a angústia, do lado esquerdo, meu irmão gêmeo que mantinha a face plácida, mas que eu sabia, esconder uma dor talvez maior que a minha.
No caixão, a bela e jovem senhora de cabelos ruivos e perfeitamente cacheados, que agora tinha seus misericordiosos olhos fechados, as maçãs do rosto murchas, a pele branca como neve, morta, ela estava.
Eu nunca mais ouviria estórias antes de dormir, nem cantigas durante o banho. Eu não mais veria suas orbes azuis, opacas e acinzentadas.
Em seu dedo reluzia ao sol forte, a pedra cor do céu, minhas pernas bambeavam, mas me vi a correr em sua direção, abrindo a tampa de vidro e lhe puxando a jóia do dedo, eu o apertava com força enquanto ia em direção a saída do cemitério rapidamente.
Tombei para frente numa queda, já na estrada de terra, e senti mãos em meu ombro me puxando para cima, não tive tempo de olhar o sujeito, o sangue quente escorria de meu olho direito depois do golpe, vindo do punho, de quem descobri ser meu irmão.
Logo meu braço formigava, pouco a pouco ficando dormente, apenas vi ele tirar o anel de minha mão aberta, emiti então um grito forte, não um grito de garoto de oito anos que eu era, mas um grito de homem ferido.
Ele me chutava, eu ainda no chão, sua face d’antes calma, agora se tornara rubra e escorriam lágrimas pelas suas bochechas, trincava os dentes. Me levantei finalmente mas antes que eu pudesse socá-lo, minha vista escureceu, não ouvia mais nada, minha boca secou, o peito doía e eu senti o chão sob o corpo, depois vários passos vindos do cemitério vibravam a terra e nada mais.
- Nicolas? Acorde! –a voz de meu pai martelava, sentava-me na cama, fitando-o com os olhos semicerrados.
Ele me olhava preocupado: -Foi um ataque do coração, você não pode se exaltar... já disse, não deveria ter deixado ir no enterro de sua mãe, és muito novo, tu e teu irmão... –continuou aflito.
Lembrei-me dele, meu gêmeo me virei e o vi sentado num banquinho de carvalho, chorando assustado. As marcas vermelhas em seu corpo e o cabelo desgrenhado, mostravam a provável surra que meu pai haverá lhe dado enquanto eu permanecia desacordado.
-Félix. –chamei-o, ele correu e me abraçou com toda a força, escondendo seu rosto em meu ombro, sussurrando desculpas e por fim senti ele por o anel em meu dedo, o metal gélido parecia despertar meu coração, que pulsava de modo intenso.
Lucy F. Melo

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