Os corvos


Eu fiz como quis, eu sentia algo bom me envolver naquele momento, eram arvores grandes, já não tinham mais nenhuma folha, parecia outono, as folhagens estavam aos seus pés, de cores lindas, laranja, vinho, amarelo, agradava meus olhos, o vento soprava fazendo nelas pequeno redemoinho e depois se dispersar passando pelas flores do gramado.
Era um corredor de arvores, e no fim deste, havia uma fonte de pedra, esculpida divinamente, com visível esmero, a água dela brotava vivida, e caia na mesma continuando o ciclo, era cristalina e refletia o sol, o barulho da água refrescava o ambiente.
Eu apenas andava sem calçados, meu cabelo caia sobre o rosto e esvoaçava-se constantemente com a brisa rápida que sempre passava ali, ouve um barulho rápido e uma sombra, logo me pus a olhar e verificar o que era, nada mais que uma fumaça escura se espalhando no leito das folhas.
Sentava-me na beirada da fonte, balançando a mão dentro da água fria, olhando-a com um encantador sorriso nos lábios, tudo fluía muito bem, e espontaneamente, no alto de uma arvore, uma imagem negra e turva apareceu, podia se ver dois corvos se formando ali, da fumaça ao seu redor, e os corvos corvejaram mais uma vez.
Eu observava-os com atenção, com a mão balançando sob a água, eu sorri para eles e com um simples balançar da cabeça os convidei para vir a sentarem-se ao meu lado, a fumaça se esvaiu e reapareceu sobre a fonte, rodeando-a pelo alto, e grasnava e grasnava aqueles corvos sem se aquietarem.
Então me levantei e iniciei uma bela dança, os corvos pareciam me seguir como acompanhantes ao ato, e vi minha pele empalidecer, meu cabelo escurecer, e tudo a volta se tornar negro, só se via o brilho dos olhos dos corvos que crocitavam sem parar como uma canção, meus lábios trepidavam, meus olhos se fechavam lentamente, e eu abria os braços girando e girando.
Sempre sorrindo, e os corvos sempre a cantar, a fonte não estava mais ali, as folhas também não, e eu girei tanto que cai no chão e uma incrível fumaça negra levantou-se do chão invisível de breu, e eu gargalhava como um pequeno bebê os corvos se calaram e sumiram, então abri meus olhos e algo estranho, ainda mais, houve, como se todo o mundo adentrasse meu corpo num sopro dentro de minha boca.
Cai, mas as folhas das arvores que haviam caído naquele outono amorteceram meu peso, e me pus a nelas sentar, a minha volta, a fonte continuava a jorrar sua água cristalina e gelada, a brisa passava de instante em instante bagunçando meu cabelo, não mais era negro, minha pele não mais era pálida, estava tudo como antes, e um ultimo grasno tiniu sem sinal algum de fumaça ou corvo.

Lucy F. Melo


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